656 setembro 2015

PORTOS E LOGÍSTICA

calibrado e validado pelas observações, não será complicado simular cenários que não existem, como as consequên- cias da modificação na topografia da região e até uma eventual dragagem. Bastará modificar as variáveis, ver os impactos na hidrodinâmica e, final- mente, no transporte de sedimentos — explica o pesquisador. Iniciada em julho, sua análise ficará pronta só em 2017, já que exige um longo período de coleta de dados. Conhecer melhor a Baía de Santos vai contribuir para planejar o desenvol- vimento do porto, da cidade e também responder a questões que interessam a comunidade local. Há pelo menos três anos, paira uma dúvida a respeito do assoreamento e erosão cada vez mais intensos empraias da região. A suspeita é que os problemas estejam ligados às dragagens recentes. A redução da faixa de areia é mais forte na Ponta da Praia, área nobre de Santos, e o acúmulo de areia é maior na Praia Góes, do outro lado da Baía, no Guarujá. Os estudos contratados vão esclarecer a movimen- tação de sedimentos dentro da baía de acordo com a dinâmica da água e dos ventos e ainda indicar se há áreas mais complexas a dragar. —Nãohá comprovaçãodequeadra- gagem anterior causou erosão. Mas va- mos estudar essa questão tambémpara entender o impacto sócio-ambiental — pondera Antonio Passaro, presiden- te da Brasil Terminal Portuário (BTP) e um dos idealizadores do Santos 17. "É interesse da Prefeitura e da comunida- de conhecer o comportamento da baía mais a fundo. Compreendendo bem os reflexos das dragagens, podemos até, se for o caso, prever ações corretivas e preventivas", complementa Montene- gro, da Codesp. “Quando se modifica a topografia do canal estuarino, muda o fundo. As correntes e as ondas são alte- radas também porque são fortemente influenciadas pela topografia do leito. Elas são responsáveis pelo transporte de sedimentos e do material em sus- pensão na água, que pode se depositar emuma região", alerta o professor Cas- tro Filho. Após a avaliação inicial, caso seja confirmada a viabilidade da ampliação

Desde 2014, Santos conta com um serviço emergencial de desassoreamento para manter seu calado operacional

será instalado a 21 metros de profundi- dade. Sobre ele, para evitar que flutue, deverá haver uma camada de material. Roberto Teller, presidente do Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp), avisa que a dis- tância prevista no projeto leva em con- ta a segurança da navegação. Chamada de Túnel Submerso, com 762 metros embaixo d’água, a via de- veria ter começado a ser construída em janeiro, mas não tem previsão para sair do papel após problemas no edital da licitação terem sido apontados pelo Tribunal de Contas de São Paulo. A obra também está ameaçada pelo ajuste fis- cal promovido pelo governo federal, já que o limite de endividamento do es- tado de São Paulo precisará ser expan- dido para garantir os recursos neces- sários. O traçado passa sob o porto de Santos e será o primeiro sob as águas no Brasil. — Se acontecer realmente de o pro- jeto do túnel ir adiante, o executor, jun- to com autoridades locais, portuária e marítima, vai estabelecer regras espe- ciais enquanto os trabalhos estiverem em andamento. Não há impeditivo, mas tem que haver planejamento e co- ordenação para definir os horários de entrada e saída nos horarios mais con- venientes — ressalva Viriato Geraldes, da Praticagem de Santos. Outra opção à ampliação do canal de acesso é o projeto Santos Vlakte. Inspirado no Maasvlakte, ampliação do porto de Roterdã, na Holanda, con- siste na possibilidade de se construir

antonio passaro Desafio é prever qual será a demanda do porto daqui a 20 anos

da profundidade do cais, os terminais de Santos já se comprometeram a ar- car com os custos do estudo ambiental necessário ao licenciamento da obra e com o projeto executivo, que vai indi- car a melhor solução de engenharia. Ao aprofundar o canal, não se sabe o que se vai encontrar. Para manter o nível, a dragagem se torna complexa e cada vez mais cara, abrindo espaço para outras alternativas. A esse esforço de ampliar a eficiência do porto, unem-se outras ideias para a região. Um dos projetos mais esperados é a construção de um túnel submarino ligando Santos e Guarujá, que deverá reduzir o tráfego de ferryboats na Baía. Voltado para o transporte de pessoas, não deverá influir na logística do por- to, mas configura um limitador prático para sua ampliação. O teto do túnel

40

PORTOS E NAVIOS SETEMBRO 2015

Made with